Há exatos 60 anos no dia 18 de junho de 1951, nas dependências do Centro de Cultura e Progresso, em São Paulo, acontecia o primeiro evento internacional de GIBIs do mundo A Exposição Internacional de Histórias em Quadrinhos. Sim, para o espanto de muitos que lêem este post agora, esse marco na história da 9ª arte foi obra de cinco brasileiros: Jayme Cortez, Reinaldo de Oliveira, Sylas Roberg, Álvaro de Moya e Miguel Penteado.
Para comemorar essa data e mostrar como o que esses cinco garotos fizeram foi algo épico e monumental, vou lhes contar uma pequena história veridica da tentativa de um outro grupo de garotos que, mais de 50 anos depois se atreveram a tentar fazer algo parceido:
O ano era 2006 e um grupo de amigos ( ou pelo menos pensávamos assim na época ) eram as peças chaves de um clube de colecionadores de GIBIs: o Gibimania.
Já tinhamos feito coisas impressionantes como ter reuniões periódicas com mais de 20 membros presentes, ter mais de 100 sócios em mais de 30 cidades por mais de 10 estados, fazer o informativo do clube com distribuição gratuita com tiragem, de gráfica, de 3 mil exemplares e realizar o Grande Prêmio Gibimania - uma competição de conhecimentos sobre GIBIs de âmbito nacional ( e tudo isso sem usar a internet, que nenhum de nós tinha na época ).
Decidimos então, que era a hora de realizar um evento de GIBIs aqui em Campinas. Mas um evento grande, digno da nossa paixão pela 9ª arte. Fizemos um belo projeto. Conversamos com sucesso com a Prefeitura, patrocinadores, e parceiros comerciais. Só faltava o local. Tinhamos um perfeito: O Centro Cultural Evolução. Bem localizado, com várias e amplas dependências, teatro, sala de cinema, áreas de exposições, apresentações e debates.
Fomos então conversar com os administradores do local. Eles ( eram 5 pessoas ) se auto denominavam "promotores culturais". Ao nos apresentar como de um clube de GIBIs um dos "promotores" se apressou em dizer:
"Aqui não se faz nada de graça! Pra fazer evento aqui tem que pagar!!" - virou as costas e começou a se afastar.
Quando eu exclamei: "Não queremos fazer nada de graça, queremos saber o preço!"
Nesse momento ele retornou sorridente e nos convidou para sentar e começar a conversar.
Depois de um pouco de conversa ele nos apresentou um orçamento de R$800,00 por dia pelo espaço. O evento seria no sábado e domingo e, como envolveria a montagem de várias coisas precisaríamos também da sexta ( para montar ) e segunda ( para desmontar e limpar o local ). Mesmo explicando que não cobraríamos entrada, que o evento não teria fins lucrativos e sabendo que na segunda o CCE ficava normalmente fechadopara o público, não teve conversa e a conta seria de R$2.400,00 pelos 4 dias.
Apesar de ser um valor bem mais alto do que esperávamos, ainda tínhamos algúm tempo e poderíamos fechar patrocínios para cobrir o aluguel. O problema foi o que veio em seguida.
Ele nos informou também que, normalmente sobre o valor dos ingressos era cobrada uma 'taxa' extra que era dividida entre os 5 "produtores culturais". Uma espécie de autorização ( na lingua das pessoas honestas, uma propina sem a qual eles não autorizariam o evento ). Como não teríamos ingresso então ele precisaria fazer uma reunião com os outros 4 "PC" para decidir o valor. Mas uma coisa era certa: Não sairia por meos de R$300,00... pra cada!!! ( mais R$1500,00 no total ).
Antes que pudéssemos respirar ele veio com a cereja do bolo:
- "E tem mais uma coisa! O dinheiro do bar é 100% nosso!!"
Explico: Em um dos ambientes do CCE existia a estrutura de um bar, do tipo que tem em casas noturnas.De acordo com ele, tudo que fosse arrecadado com a venda de bebidas, batidas e outras misturas alcoólicas seria exclusivamente dos "PC". Foi aí que tentei explicar ( novamente ) que iríamos realizar um evento de GIBIs ( evento diurno, para crianças, jovens e famílias, sem a presença de bebidas alcoólicas ). E para meu espanto ele disse:
- "Sem o bar não tem evento! Esses são nossos termos!"
E foi aí que o evento naufragou. A falta de opções fez com que a idéia fosse arquivada e ela assim continuou até o final trágico e melancólico do Gibimania.
Hoje existem alguns eventos de GIBI pelo Brasil afora, mas nenhum com a estrutura que tínhamos planejado 6 anos atráz. Como podem perceber o que aqueles garotos fizeram em 1951 realmente deve ser relembrado, reverenciado e, porque não, reeditado.
Alguém se espantaria se eu dissesse que atualmente no lugar do Centro Cultural Evolução existe uma escola profissionalizante??
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